domingo, 7 de março de 2010

Geo Economia - A terra tremeu e o país continua de pé


Chile - América do Sul
Como as qualidades econômicas do Chile e o baixo índice de corrupção farão com que os vizinhos se levantem mais rápido de um terremoto que poderia ter sido devastador
Guilherme Queiroz - ISTOÉ Dinheiro

Ao ser chacoalhado por um terremoto de 8,8 graus, o mais intenso dos últimos cinco anos no mundo, o Chile sofreu um abalo em sua estrutura física. A força do sismo, equivalente a 900 bombas que atingiram Hiroshima, destruiu rodovias, paralisou setores produtivos importantes e, dias depois do desastre, uma parte do país permanecia sem água, luz ou serviço de telefonia. Mas, mesmo abalado pelas cenas de ruína e com mais de 800 mortos, o país permanece de pé, sustentado pela solidez de sua economia, tida como a mais competitiva e a menos corrupta da América Latina. Na contramão do quadro de absoluta penúria vivido pelo Haiti, devastado em janeiro por um tremor mais fraco, autoridades do país andino estimam que a recuperação total do Chile vai demorar entre três e cinco anos e custar entre US$ 8 bilhões e US$ 30 bilhões. Mas há consenso de que o país será capaz de se reerguer de forma rápida. "Graças a Deus, o Chile é preparado", disse o presidente Lula ao desembarcar em Santiago, na segundafeira 1º, para prestar solidariedade. No dia seguinte, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, elogiou a capacidade de resposta do Chile.

Abalado por quatro grandes terremotos no século 20, o país desenvolveu o que é chamado de cultura sísmica. Depois do tremor de 1939, que deixou 30 mil mortos, o Chile adotou um código de edificações rígido, que impõe padrões antiterremotos e vem sendo seguido à risca no país menos corrupto da América Latina, segundo a Transparência Internacional. "Se os edifícios tivessem ruído, a contagem de mortos seria de dezenas de milhares. Houve mais vítimas pelo tsunami do que pelo terremoto", disse à DINHEIRO o embaixador do Chile no Brasil, Álvaro Díaz Pérez. E foi aí, no alerta do tsunami, que o governo falhou, ao não repassar à população informações de que as ondas gigantes poderiam atingir a costa.

Nos últimos 20 anos, o Chile foi o país da América do Sul que mais cresceu. Desde a redemocratização, em 1990, adotou uma ampla agenda de reformas institucionais, com o objetivo de tornar a máquina estatal mais leve e o setor produtivo, mais competitivo. Passadas duas décadas, o país tem a maior renda per capita da América Latina e o ambiente mais propício para os negócios, com carga tributária de 21% do PIB. A receita do cobre, principal produto de exportação, deu ao país um colchão de US$ 11,3 bilhões no Fundo de Estabilização Econômica e Social, para fazer frente a emergências, como o terremoto da semana passada, e reservas internacionais de US$ 25,8 bilhões. Números elevados para um país com um PIB de US$ 170 bilhões. A previsão do governo para este ano era de um crescimento de 4,9%, mas o terremoto, apesar do enorme sofrimento humano, deve acrescentar mais 1,5 ponto percentual neste resultado, com os investimentos na reconstrução da infraestrutura. "Haverá muita mão de obra empregada", analisa Pérez. Empresários da construção preveem contratar 600 mil chilenos nos próximos meses.

O que ainda falta é o consenso sobre como financiar um plano de reconstrução. Segundo economistas, a tarefa será facilitada pela situação fiscal do país, com uma dívida pública equivalente a apenas 9% do PIB, alcançada depois de sucessivos superávits orçamentários. Outra vantagem é o reduzido risco país, que barateia o crédito internacional, opção já dada como certa. "O Chile tem recursos para uma quantidade de ações, mas vamos ter que pedir crédito ao Banco Mundial e a outras instituições", admitiu a presidente Michelle Bachelet, que entregará o cargo para Sebastián Piñera, na próxima quintafeira. "Nosso futuro governo não será o do terremoto, mas o da reconstrução", destaca o sucessor de Bachelet.

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